Seria mentira se eu dissesse que não sinto saudades de você,
chuchú! Saudade das tantas vezes que o verão ficou pra mais tarde (como diriam
os Los Hermanos), enquanto nós desafiávamos a física de Newton no sofá da
minha casa. Você lembra, é claro! A música tocava alto, e a gente se embaraçava
de tal forma, que no final eu mal sabia qual era a minha perna e qual era a
sua... éramos um só. E foi assim por um bom tempo.
A pergunta que até agora eu não consigo responder é: Por que
diabos eu te deixei ir embora? Sabe, alguém assim como você, não se encontra em
qualquer esquina hoje em dia. Eu deveria ter te amarrado no pé da mesa; ia ser
o ápice da possessividade, né?! Tá, vamos lá, eu admito meus ciúmes, mas sinceramente,
não ligaria em ter que dividir você com todas aquelas meninas que te cercavam
na época. Sei que eu era especial em meio a todas elas. Você me fazia sentir
assim!
Quando eu cantava, pra acompanhar o violão, seus olhos se
enchiam de brilho e de orgulho; quando eu começava com aqueles velhos argumentos
nerds ou aquelas ideologias morais a respeito da sociedade machista, etc, você
me ouvia com tanto afinco, tanta atenção, que eu tinha certeza que aquilo era
paixão. Nenhum casal que se preze discute sobre isso num sábado à noite com
tanta coisa melhor pra se fazer, a menos que estejam de quatro um pelo outro; - aí vale qualquer assunto.
E pode ter certeza, eu tava mesmo nessa vibe. Em alguns
momentos, tudo o que importava pra mim era o teu sorriso; e cá pra nós, você
nunca economizava. Nem nas risadas nem no humor. Acho que a sua maior virtude,
meu anjo, sempre foi essa maneira leve e displicente de
encarar a vida. Era, de fato, impressionante como alguém de tão pouca idade já
sabia tanto do mundo e das coisas ao seu redor. Eu ficava em êxtase. Delirava,
olhando fundo nos teus olhos.
Enfim, flash backs à parte, o fato é que eu ainda te admiro
como ninguém. Tenho orgulho de lembrar sempre que você fez parte de um momento
inexplicável da minha história. Sabe disso. Diz pra sua namorada que ela tirou
sorte grande. Pegou na loja de antiguidades a peça mais rara - de valor
inestimável, principalmente pra mim; e que se ela der mole, eu tomo de volta,
sem pestanejar. Como diria meu professor de Sociologia: “a história sempre retrocede
ou se repete”. Vai que a nossa se esbarra por aí, num desses dias quentes de
sol a pino...
Prometo estar aqui, como sempre estive, no sofá, te
esperando pra deixarmos juntos o verão pra mais tarde!
Capitolina Pinheiro