Aqui, na minha Paris, não tem Torre Eiffel. É só um abajur
em forma de pirâmide, enfeitado com luzes coloridas que servem para amenizar o
breu do ambiente. É o meu ponto de referência; em muitas noites minha única
companhia. Em cada brilho de luz parece conter uma palavra, e eventualmente,
juntos, conversamos madrugadas inteiras.
Aqui, na minha Paris, não tem Basílica Sacre Couer. Mas tem
um cantinho de orações muito aconchegante. Também é dedicado ao Coração de
Cristo e ali, faço minhas preces todos os dias às 3 da tarde, na hora do
Espírito Santo. Peço pela minha mãe e pela minha vozinha que anda meio doente. Agradeço pelo Dom da
vida e pelo pão de cada dia, que Papai do Céu me deste em abundância.
Aqui, na minha Paris, não tem Museu do Louvre nem d’Orsay.
As expressões artísticas são simples e humildes, mas lindas, encantadoras. Não
é nada comparada à arte grega antiga ou às pinturas do período renascentista,
mas são fotografias de objetos, pessoas e paisagens que transbordam sentimento,
assim como qualquer outra expressão de arte que se preze.
Aqui, na minha Paris, não tem Arco do Triunfo. Na verdade,
nem caberia. Mas eu improvisei com outro monumento. Há uma espécie de escada,
igual a do Arco, mas de ferro, que sobe para um outro patamar e propicia aos
observadores uma visão altamente privilegiada. Napoleão também se agradaria, eu
acho.
Aqui na minha Paris, não tem Moulin Rouge, mas pode ser tão
animado quanto lá. Bebida nunca falta, já os convidados eu não sei. A vitrola
ainda funciona, e eu, dependendo da hora, até me arrisco a dançar. Danço pra
esquecer o que há da porta pra fora. Pra animar a vitrine e mostrar pro
psiquiatra que eu não tenho mais esse negócio de síndrome do pânico. Acho que ele
só acredita quando eu saio do meu quarto pra ver o sol (eu odeio isso). O que ele
não entende é que aqui é a minha Paris, meu espaço reservado. Não preciso de
mais nada, nem de ninguém. Sou só eu e ela. Portas trancadas. A sós.
Capitolina Pinheiro
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