Resposta ao texto de Matheus Fonseca:
Você tem razão: eu nunca gostei muito de ler, muito menos
esses livros que falam de coisas esquisitas. E dizem que esse tal de Sartre é
um porre, mais recomendado para as pessoas que estão pensando em suicídio.
Mas eu não me preocupo com isso, você é inteligente demais pra fazer esse tipo
de imbecilidade. O fato é que pra mim as coisas também não estão muito
agradáveis, a rotina longe da sua barba é cruel e tem doído demais ...
Mas eu não vou te ligar. E isso não tem nada a ver com
orgulho, porque você sabe que eu não tenho esse tipo de atitude infantil de
auto flagelação. O que está em jogo aqui não é quem tá certo ou errado, ou quem
rói a corda primeiro, a discussão é maior, onde se olha o passado e se
vislumbra o futuro. E o problema está exatamente aí: Não existe futuro pra nós.
As coisas tomaram uma proporção que não dá mais pra controlar. Não existe
saída. É por isso que um telefonema meu, a essa altura do campeonato, nem faria
muito sentido.
Eu estive cega durante sete meses, mas acreditava estar lúcida
e sã em todas as atitudes arbitrárias que tomei. Foi esse o meu sabotador.
Quando eu menos esperava, tropecei em minhas próprias pernas e acabei quebrando
o castelo de vidro que construímos juntos durante os anos. É claro que você me
culpa por tudo isso, mas quando se trata de um casal, nenhum erro é unilateral.
E eu também tenho a minha versão da história pra contar.
Não caberia aqui nestas linhas tão breves, e afinal de
contas você nunca quis ouvir o que eu tenho pra falar - tem receio da decepção,
e a pior forma de se decepcionar é consigo mesmo. Mas a verdade, cá pra nós, é
que o mocinho, ao contrário do que a platéia pensa, pode ter sido o vilão,
neste grande descompasso!
Capitolina Pinheiro
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