Se engana quem acha que esse meu olhar ingênuo define o meu
coração. Eu posso ser bem mais que fogo, posso me fazer vulcão. Pensas errado
de mim, se acreditas no meu dom de ser boa moça. Posso não ser voodoo, mas também
não me compare a nenhuma boneca de louça. É possível que eu me entregue pra ti e lhe proporcione a melhor
das noites de paixão, mas no dia seguinte eu vou embora, e te apresento ao mar
negro da infinita solidão. Se quiseres assim, eu te chamo de amor, mas nunca se
esqueça, se mereceres, eu conheço a pior forma de te mostrar a dor.
Na mesa e na frente dos seus amigos eu vou parecer uma dama.
De madrugada, entre quatro paredes, eu me transformo numa prostituta, na cama.
Eu cuido da casa e ponho sua janta todos os dias, se assim desejar. Mas quebro
dos pratos ao vidro do seu carro, se me trocar por essas vadias, sem
pestanejar. Posso ser sua, vestida ou
nua, se me jurar ser só meu também. Mas
dependendo da lua, e da postura sua, vou pro asfalto e aceito menos de cem.
Viro mãe, se isso te fizer feliz; viro a mesa, caso contrário, como uma intempestiva meretiz.
Faço charminho pra ganhar seu amor e seu coração, e de mansinho, por debaixo do meu vestido vermelho, escondo meu tom voraz de dissimulação.
Eu sei que, às vezes, esse meu surto bipolar te espanta
Mas é simples entender:
Só não sou doida nem santa.
Capitolina Pinheiro
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